Pesquisa Talks é uma newsletter quinzenal feita por duas pesquisadoras de conteúdo para projetos audiovisuais
Por Barbara Heckler e Camila Camargo
No outro
Sabe aquela pergunta: se você tivesse um super poder, qual seria? Eu sempre escolho dois: voar e conseguir sentir o que a outra pessoa sente. Uma piração que eu nem sei explicar direito, meio “Se eu fosse você”, com Glória Pires vivenciando o que é ter os pelos do Tony Ramos hahaha (não exatamente isso, mas isso, entende?).
O fato é que esse desejo me persegue e penso nele de vez em quando. Cheguei perto de realizá-lo de certa forma, pelo menos na intenção. Caiu em minhas mãos um dos projetos mais legais que já fiz, era para o Museu Britânico da Empatia, na versão brasileira. A exposição se chamava “Caminhando em seus sapatos”, tradução da expressão em inglês “to walk a mile in someone’s shoes”, que em português seria o equivalente a “sentir na pele”. A minha função era procurar pessoas com histórias que tocassem a humanidade das outras. Depois, elas doariam um sapato usado que seria deixado na exposição. Os visitantes vestiriam um determinado calçado, colocariam um fone e escutariam a história do dono daqueles pés.
Conversei com muita gente cujas narrativas eram de arrepiar: uma bibliotecária cega, um policial do movimento Sou da Paz, um pai com filho com síndrome de Down, um menino negro, bailarino, da favela que atravessava a cidade pra treinar, com pais apoiadores do talento do filho. O Victor, este rapaz, doou sua primeira sapatilha para o museu.
Quando inaugurou, fui até o Ibirapuera, onde foi feita a instalação e, por coincidência, a mãe do Victor estava lá. Presenciei-a experimentando suas sapatilhas, escutando um depoimento que nunca tinha ouvido dele, com os olhos marejados. Junto a ela, outras pessoas caminhavam pelo espaço, com calçados que, muitas vezes, não encaixavam exatamente em seus pés, porém se esforçavam nos passos, mesmo que trôpegos. Encarei como uma bela metáfora para empatia e uma forma de me aproximar do meu super poder.
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BARBARA chega perto de desejos, enquanto pesquisa
Volare, oh, oh
Tem mais um prédio brotando pela janela. Quando viajei para a Itália, há 3 semanas, eram 6 andares construídos. Olhando hoje, diria que são 14 e crescendo. Não sei onde vai parar, mas o tuc-tuc-tuc insistente da obra virou um TÓC-TÓC-TÓC na minha cabeça. Assim, agudo e em caixa alta.
Voltei de férias cismada e nem é a primeira vez. Quando passo um longo e delicioso tempo em outra cidade, um pensamento mais ou menos assim me invade ao entrar pela porta de casa: "Que bom que tenho pra onde retornar, que tudo deu certo, mas… por que ainda tenho essas almofadas? meu deus, como a rua tá barulhenta! a maçã sempre teve esse gosto?".
Resisto também o quanto posso a força dos velhos hábitos. Quero manter a habilidade de curtir e viver o presente que, se bobear, perco em 2 semanas. As telas vão ganhando espaço, assim como a armadilha de ver notícias devastadoras com mais frequência do que gostaria. O Whatsapp emulando conexões é o que mais me aborrece, porque se choca com a qualidade das interações que as viagens a lazer proporcionam, com tempo para longas conversas, intimidade.
Volto com muitos "e se…". Alguns são educativos, outros pura divagação. E se a gente passasse uma temporada fora e eu trabalhasse daqui? E se fosse possível caminhar à noite em São Paulo? E se toda refeição fosse especial?
Visitar outros destinos é algo que levo ao pé da letra. Depois de ver o cardápio de estilos e possibilidades de vida se alargar tanto, não há como regressar sem apetite de mudança. E se, e se… Por enquanto só pintei o cabelo.
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CAMILA pesquisa a mala de viagem ideal e apreciaria demais a sua ajuda
📌 Uma Dica e Um Pedido
[Barbara] Eu não sei quanto a você, mas uma das minhas melhores memórias de infância é o cheiro de bolo saindo do forno. Por isso, a dica do Dia das Crianças é o livro Bolos Caseiros do Brasil, do psicanalista e pesquisador de pratos brasileiros Flávio Ferraz. O autor reuniu 292 receitas pelo país, populares ou segredos de família, todas testadas. Queria ter sido a cobaia.
[Camila] Há anos venho lapidando minha skin de viajante. Fico hipnotizada quando alguém passa por mim no aeroporto apenas com uma bela mala de mão e uma mochila não muito pesada nas costas. Sem bagagem despachada. Ambiciono um pouco desse poder, que já virou minha mais nova pesquisa pessoal. Embarque comigo nesse briefing: mala de mão leve, resistente, bonita, que não custe o preço de uma Rimowa. Conhece? Tem? Já ouviu falar? Me conte tudo sobre isso ;)